As coberturas, telhados e lajes estão aptas a realizar variadas funções dentro do cotidiano e contexto de cada comunidade — são, por definição, espaços multifinalitários.
Estas funções podem pertencer à dinâmica própria de cada edificação (repositório de caixas d’água, máquinas, etc.), mas também podem ser vistas a partir da sua contribuição mais ampla para a coletividade, em especial a partir da lógica dose serviços ambientais.
Serviços ambientais são as atividades individuais ou coletivas que favorecem a manutenção, a recuperação ou a melhoria dos serviços ecossistêmicos, contribuindo para cidades mais sustentáveis e habitáveis.
Conheça mais sobre o tema dos serviços ambientais e ecossistêmicos com a Política Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais (Lei Federal 14.119/2021) e, no caso de São Paulo, através da leitura do Plano Municipal de Conservação e Recuperação de Áreas Prestadoras de Serviços Ambientais (PMSA) da Prefeitura de São Paulo e do estudo Serviços Ecossistêmicos e Bem-Estar Humano na Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo do Governo do Estado de São Paulo.
Circuitos curtos de produção de alimentos saudáveis, sem intermediários, é essencial para a garantia da segurança alimentar e nutricional de nossas comunidades. A utilização do espaço das coberturas para disseminação da implantação de hortas representa uma oportunidade de aproximarmos as práticas de cultivo às moradias. A promoção da agricultura urbana é um movimento que tem ganhado força localmente e nacionalmente ao longo dos últimos anos, e a integração das coberturas a estes processos representa um potencial de multiplicação e extensão de práticas sustentáveis de produção e alimentação, com foco em populações vulneráveis.
A água é recurso essencial para a vida humana, e a sua gestão sustentável é um desafio dos aglomerados urbanos, marcados por processos históricos de excessiva impermeabilização do solo, poluição e aterramento de rios. Em São Paulo, temos presenciado estresses hídricos e momentos de crise, que serão cada vez mais frequentes com a emergência climática. As coberturas nos oferecem uma oportunidade de repensar e reestruturar o ciclo da água e a permeabilidade da nossa cidade, por meio de tecnologias de captação e reservação da água das chuvas, contribuindo para a resiliência urbana e para um uso mais econômico dos recursos hídricos.
O desafio de uma transição energética para fontes renováveis encontra na cidade um grande potencial de expansão, em razão da extensão de coberturas, lajes e telhados que podem recepcionar a implantação de placas fotovoltaicas. O fomento à geração distribuída de energia elétrica tem sido apontado como um caminho importante para descarbonizar a matriz energética, reduzir os danos sobre o meio-ambiente, e inclusive minimizar o impacto de eventuais panes e problemas que podem paralisar um sistema centralizado. Nesse sentido, usar a rede de coberturas como estratégia para multiplicar a geração de energia renovável na cidade carrega o potencial de ampliar a autonomia das comunidades, de forma limpa e sustentável.
As cidades são grande foco de emissões de gases de efeito estufa, na medida em que concentram cadeias de produção e consumo intensivas em carbono, reforçadas na construção civil, no transporte dependente do uso do carro, na supressão de vegetação nativa, contribuindo de forma ampla para o agravamento da crise climática. Alternativamente, telhados verdes com vegetação podem ser instrumentais para a captação de CO2, assim como hortas e plantios em coberturas e lajes podem produzir impacto no encurtamento de cadeias de produção, reduzindo emissões de transporte e disponibilizando alimentos mais próximos à população.
O aumento das temperaturas globais é ainda mais sentido nas cidades em razão do fenômeno de “ilha de calor”, resultante do acúmulo de asfalto e concreto e da falta de áreas verdes urbanas. Adaptar-se às mudanças climáticas deverá envolver a adoção de soluções que possam amenizar o impacto de ondas de calor, de modo a proteger a saúde e conforto dos cidadãos. As coberturas são aliadas essenciais nessa empreitada em razão da sua capacidade para auxiliar na diminuição das temperaturas médias, seja por meio do desenvolvimento de telhados verdes com vegetação, seja pela adoção de materiais que refletem e absorvem menos luz solar.
As enchentes e alagamentos causadas pelas chuvas cada vez mais intensas são um problema crônico da cidade de São Paulo. O agravamento dos eventos climáticos extremos resultam das nossas escolhas urbanísticas, da excessiva impermeabilização do solo e tamponamento dos cursos d’água que produziram riscos e vulnerabilidades e reduziram a capacidade natural de drenagem. As coberturas — distribuídas em rede difusa por todo o território — podem contribuir como ferramentas para ampliar a capacidade de drenagem. Este papel pode ser ainda mais essencial nas áreas mais críticas, por meio de tecnologias de captação de água das chuvas.
Dentro de um ecossistema, os espaços também podem realizar serviços culturais, que dizem respeito àqueles aspectos não materiais que advém do contato com um certo contexto e território: o sentido de pertencimento, as experiências estéticas e espirituais, as possibilidades de contato e confraternização com os vizinhos e pessoas próximas. Nesse sentido, as coberturas também simbolizam uma “quebra” do entendimento individualista dos espaços urbanos e oferecem um espaço de vivência comunitária para encontros, celebrações, recreação, e mesmo a experiência turística de conhecer um território a partir destes espaços elevados.
A contemplação da paisagem da perspectiva das coberturas também pode congregar um elemento educacional, ao permitir uma forma de entendimento dos territórios, da sua geomorfologia e formas de ocupação, a partir da ampliação dos pontos de vista. As visitas às coberturas podem ser, dessa forma, uma porta de entrada para a análise dos espaços urbanos que viabilizam novas possibilidades de representação e de reflexão.
As coberturas compõem uma variada tipologia de espaços, tanto no que diz respeito a suas características físicas (área, solução construtiva, planicidade, altura da edificação), quanto no relacionamento com o seu entorno urbano e paisagem (localização, visibilidade, impacto dos eventos climáticos, entre outros fatores). Portanto, entender as potencialidades de cada cobertura e os usos possíveis exige posicionar este espaço dentro de um contexto territorial mais amplo.
Para avançar neste esforço, nós realizamos um mapeamento de todas as coberturas, lajes e telhados no município de São Paulo, a partir de dados do GeoSampa. No mapa abaixo, é possível explorar as camadas que representam a mancha das coberturas com diferentes metodologias de mapeamento.
Pesquise seu endereço abaixo, na ferramenta de geolocalização (no canto superior direito).
Você consegue achar a cobertura da sua residência?
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Com o apoio do LelloLab e do G10 Favelas, desenvolvemos alguns estudos de caso na metrópole de São Paulo. Visitamos os espaços, conversamos com pessoas que utilizam ou são responsáveis pelas coberturas e debatemos as potencialidades de prestação de serviços ambientais para cada um deles.
Confira abaixo as características de cada um dos casos!
Edifício comercial localizado nas fronteiras de um distrito industrial em transformação, em um território de várzea fluvial
Características
Potencialidades
Conjunto de dois edifícios residenciais na Avenida Paulista
Características
Potencialidades
Conjunto de quatro edifícios residenciais em Carapicuíba, município da região metropolitana
Características
Potencialidades
Pavilhão usado como centro comunitário, situado na segunda maior favela de São Paulo, com mais de cem mil habitantes.
Características
Potencialidades
Com um pontapé inicial em 2022 e 2023 realizado com o apoio do Consulado dos Países Baixos, desenvolvemos pesquisas preliminares, estudos de caso e oficinas com a participação de parceiros locais — G10 Favelas, LelloLab e Arcadis Brasil — e holandeses — Prefeitura de Roterdã, MVRDV e Arcadis Holanda. (Vale a pena conferir o Rooftop Catalogue, elaborado pelo escritório de arquitetura MVRDV em parceria com a Prefeitura de Roterdã, assim como o programa de Multifunctional Roofs da Prefeitura de Roterdã.)
Parte da pesquisa desenvolvida pelo ZeroCem foi apresentada e debatida no Fórum SP23, um simpósio acadêmico dedicado a reunir contribuições ao Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo. Você pode conferir a apresentação oral aqui e, em breve, o artigo científico será divulgado aqui. (As estimativas de potencial apresentadas no início desta página estão explicadas no artigo.)
Idealização e realização: Instituto ZeroCem
Equipe: Alexandre Fontenelle-Weber, Fernando de Mello Franco, Giselle Mendonça Abreu, Rafael Chasles e Bárbara Frutuoso
Parceiros: G10 Favelas e LelloLab
Conexões internacionais: Prefeitura de Roterdã, Arcadis e MVRDV
Apoio: Consulado dos Países Baixos
Agradecimentos especiais: George Brugmans, Marta Bogéa, Patrícia Sepe, Lara Cavalcanti, Isaac Bezerra e Lucas Girard
Planejamento e Design Digital e Programação de Software: Núcleo Digital